segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Manifesto Estudantil pela imediata retirada das tropas da ONU do Haiti

POVO HAITIANO: ESTAMOS COM VOCÊS!


No início do ano o mundo se deparou com o grande terremoto que devastou o Haiti. Porém, o desastre natural mostrou que caos social que vive o povo haitiano não tinha origem no desastre natural. O Haiti é um dos países mais pobres do mundo e há anos sofre uma ocupação militar que longe de cumprir o papel de reconstrução do país, ajuda a manter o grau de exploração e submissão do povo haitiano frente ao imperialismo.


No dia que se completou 6 anos de ocupação militar do Haiti a ANEL saiu as ruas junto com a CSP-Conlutas para levantar a bandeira do povo haitiano contra a ocupação das tropas brasileiras no Haiti! Foram realizados atos em São Paulo e Rio de Janeiro, entre outras iniciativas pelo Brasil.


No Rio de Janeiro, foi realizada uma panfletagem na central do Brasil dialogando com a população sobre o papel que o Brasil vem cumprindo nesta ocupação militar. A ANEL também foi ao Itamaraty e, além de se reunir com os representantes da ONU no Brasil, protocolou o manifesto da ANEL pela imediata retirada das tropas. A assessoria de comunicação do Itamarati enviará o manifesto para os países que integram as Nações Unidas. Também participaram do encontro a CSP-Conlutas, MST, Jubileu Sul, MTL, que também entregaram uma carta à ONU assinada por vários movimentos sociais.


Em São Paulo, o ato reuiniu cerca de 150 pessoas contando com a participação da ANEL, CSP- Conlutas, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e diversos sindicatos. A partir da mobilização foi agendada uma reunião para sexta-feira (30/07) no consulado do Haiti de São Paulo.


Abaixo segue o manifesto que a ANEL protocolou:

Levantamos a bandeira do Haiti!


No dia 28 de julho, completam-se 95 anos da primeira ocupação militar promovida pelo exército norte americano no território haitiano. Essa ocupação era parte da ofensiva norte-americana para emergir como o império do mundo, o que passava por dominar econômica, política e militarmente as nações mais frágeis economicamente, sobretudo as que tinham o histórico de lutas como a República haitiana.


Também nos encontramos no 6° ano de ocupação Militar promovida pelas tropas da ONU no Haiti. Essa ação vem sendo ordenada pela ONU, sob chefia do Exército brasileiro, com a presença de tropas de diversos outros países, como Peru, Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, Paraguai, Uruguai, para citar apenas os latino-americanos. Após o terremoto ocorrido em 12 de janeiro de 2010, os EUA também enviaram mais tropas ao país.


A justificativa política que os governos desses países e a própria ONU apresentam é de que ela teria a missão de pacificar o país e conter as revoltas populares que ocorrem por lá. A ONU, o governo brasileiro e os diversos outros governos que enviam tropas ao Haiti só não revelam os motivos dessas revoltas e mobilizações. O fato específico que as geraram foi a intervenção norte americana sobre a definição eleitoral do povo haitiano nas eleições de 2001, em que os ianques sustentaram a posição política da oposição que não aceitava a eleição de Jean-Bertrand Aristide, um candidato ligado aos movimentos populares, que chegou inclusive a ser sequestrado por fuzileiros norte americanos.


O motivo histórico que proporcionou essa relação do imperialismo norte americano com as mobilizações no Haiti é exatamente o fato de o Haiti ser um país marcado por lutas heróicas. A conquista da independência do país se concretizou na primeira revolução vitoriosa de escravos do mundo. A República Negra se tornou motivo de precaução para as oligarquias de outras colônias que também construíam suas riquezas explorando o trabalho escravo da população negra.


O motivo econômico que explica a intervenção militar está vinculado ao motivo histórico. A intervenção militar em 1915 e as intervenções subseqüentes combinadas com o apoio a governos ditatoriais da minoria mestiça estiveram a serviço de transformar o Haiti em um quintal das empresas norte-americanas, aonde elas poderiam lucrar através da super exploração do povo pobre e negro do país. Dessa forma, hoje o Haiti é um país absolutamente dominado economicamente pelos EUA, contando com 89% das importações deste país e com 65% das exportações também para este país. O resto das relações econômicas também se dá sobre a base de muita exploração de empresas multinacionais de vários países.Diferente do que se propagandeia, a ocupação militar da Minustah (nomenclatura da “ação de paz” da ONU) vem promovendo mais miséria e mais repressão sobre as mobilizações dos trabalhadores haitianos, isso sem falar das denúncias de casos de violência sexual dos soldados sobre mulheres haitianas.


As conseqüências do terremoto ocorrido no país foram desastrosas. Mais de 200 mil mortos e mais de 1 milhão de desabrigados. Números de guerras. Pouco depois deste terremoto vimos ocorrer um terremoto muito mais forte no Chile que matou cerca de 500 pessoas. As diferenças nos números revelam que as conseqüências do terremoto foram agravadas pelo caos social no país. O que fizeram as tropas durante os 6 anos que estão instaladas no país? Serviram apenas para evitar mobilizações e greves dos trabalhadores e jovens haitianos e abrir caminho para a instalação de empresas multinacionais, que vêem no Haiti um território propício para a superexploração.


Após o acontecimento do terremoto, os governos dos EUA e do Brasil, junto com a ONU ampliaram suas justificativas não apenas para manter as tropas, como para ampliar a presença de soldados em território haitiano. O grande argumento era de que para garantir a reconstrução do país, era necessários mais soldados. Ocorre que já se completaram 6 meses do terremoto e ainda não houve nenhuma reconstrução do país, os alojamentos seguem ocupados por milhares de famílias, que vivem em barracas e o sistema de saneamento básico ainda não foi reconstruído, o que promove uma permanente situação de calamidade pública.


O movimento estudantil haitiano, junto a alguns professores vem desenvolvendo uma importante resistência à presença das tropas. Essas manifestações foram e seguem sendo muito importante para ampliar a resistência pro conjunto da classe trabalhadora haitiana. A força dessa resistência já foi percebida pelo exército brasileiro, que reprime com muita força as manifestações que ocorrem. Em janeiro de 2010, o professor Jean Anil Louis-Juste foi assassinado durante uma manifestação em Porto Príncipe, este professor organizava muitas greves e a resistência contra a presença das tropas no país.


Queremos, com este manifesto, não apenas expressar nossa solidariedade, mas, sobretudo dizer que levantamos a bandeira do Haiti contra a bandeira brasileira. Estamos contra as bandeiras de qualquer país que envia tropas para reprimir e explorar o povo haitiano. Somos irmãos da classe trabalhadora e da juventude haitiana, porque esse lado expressa a luta contra o imperialismo, contra a superexploração das multinacionais, a luta pela autodeterminação dos povos e a luta por uma sociedade mais justa e igualitária.


Queremos também nos dirigir particularmente aos estudantes haitianos, que através de muitas mobilizações vêm mostrando a capacidade da juventude de se aliar ao programa de luta da classe trabalhadora, e de contribuir para um enfrentamento brutal com o imperialismo ianque e seus aliados. Estamos construindo a partir da experiência de um grupo de pesquisadores de uma Universidade aqui do Brasil um projeto de intercâmbio para trazer estudantes haitianos para o Brasil, para estudarem nas universidades brasileiras e estabelecer laços com o movimento social brasileiro, pois é uma forma de avançar na resistência e na luta que heroicamente é construída pelos trabalhadores e jovens haitianos.

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